sábado, 8 de janeiro de 2011

Aquarios são hidricamente sustentáveis?

Água, transparente, líquida
Em ti habita, cristalina vida
Água das fontes, ribeirões, riachos
Tua alma, clara, translúcida
Vitifica o ventre virente das matas
Faz que floresça a vida na Terra,
Sequiosa de amor.

Escrito por Márcio Castro das Mercês – Analista Ambiental ICMBio, lotado na Reserva Biológica de Tinguá (Rj)



Aquecimento global, desertificação, esgotamento dos recursos naturais, buraco na camada de ozônio, desmatamento, crise mundial da água, disposição inadequada de resíduos, poluição atmosférica, contaminação de corpos d’água, mudanças climáticas, chuva ácida, eutrofização.

A sociedade humana através dos tempos e de sua natural evolução sempre se comportou de forma predatória e antropocêntrica, pouco ou nada se importando com as necessidades de outras formas de vida que igualmente compartilham este diminuto ponto azul perdido na imensidão universal.

O planeta Terra ao longo de sua existência já testemunhou várias extinções em massa, porém o caminhar dos modelos produtivos ambientalmente insustentáveis apontam para um futuro em que seremos os primeiros e últimos a promover conscientemente nosso próprio extermínio como seres vivos, com a agravante de levarmos toda uma biodiversidade para o mesmo holocausto planetário.

Qual outro ponto no espaço que propicia as condições necessárias para que a vida tal qual a conhecemos, emerga?

Por demais sombrio o panorama futuro que nos é desenhado? Mais um exercício de “ecoterrorismo-fundamentalista” como tantos outros que nos assolam diariamente? Ou um clamor silencioso; gritos de socorro frente aos descalabros de um modelo ensandecido de consumo baseado no ideário da economia clássica cuja boca consome de tudo não importando a procedência e defecando em tudo e todos não se importando com a ética ambiental para as gerações presentes e futuras?

Até o ano de 2020 estaremos na “década da água”, que segundo a ONU é um recurso natural cujo acesso deve ser prioritariamente para o ser humano, embora saibamos que 70% de toda água potável é destinada aos grandes empreendimentos agropecuários, 20% para as indústrias e corporações e somente 10% tem sido usado para consumo humano. Em vários pontos do planeta já ocorrem sérios conflitos sociais e bélicos pelo acesso e posse das fontes deste que já é conhecido como “ouro azul” do séc. XXI – água, o elemento fundamental da vida; indispensável às atividades humanas, à fauna e à flora do planeta, mas a crescente expansão demográfica e industrial comprometeu a quantidade e a qualidade da água disponível na natureza.

Alguns dados oficiais ONU/UNESCO:

- 1,6 milhões de pessoas morrem por falta de água potável todos os anos, a maioria crianças menores de 5 anos;

- 4.200 crianças morrem todos os dias por falta de água;

- 900.000.000 de pessoas não tem acesso à água, sendo que 125.000.000 crianças até 5 anos vivem em lares sem água;

- Em 2030, 67% da população mundial não terá acesso à água;

- 80% das doenças em países em desenvolvimento são de veiculação hídrica;

- US$ 38 bilhões/ano seria a quantia poupada se houvesse uma correta gestão da água.



A quantidade de água necessária para o sustento da vida, apenas, é relativamente pouca. Mas mesmo nas sociedades mais simples as pessoas precisam de uma quantidade adicional de água para se lavar, preparar alimentos, etc. Nos tempos passados, o consumo “per capita” diário, considerando todos os usos, inclusive a água de beber, era de aprox.12/20 litros. Atualmente, o consumo doméstico “per capita” é de aproximadamente 300 litros por dia. Computados todos os fatores de produção (uso doméstico, irrigação, industrial, na agricultura, etc.) o consumo gira ao redor de 15.000 litros por pessoa por dia. A demanda de água cresce com o aumento de população e com a melhoria do padrão de vida.

Porém ao analisarmos os mecanismos na gestão hídrica implementados em vários pontos do mundo notaremos que nem sempre a simples valoração ou precificação da água não é considerada uma ferramenta eficiente no controle da demanda pela população, tampouco a eterna discussão entre os modelos privados e públicos de gestão nos dão as certezas necessárias para que este recurso natural seja distribuído de forma correta observando-se as especificidades na execução das políticas públicas afins.

“Aquários são hidricamente sustentáveis”? Neste ponto devemos pausar nossa leitura para analisarmos o significado de “sustentabilidade” e como este termo pode ser aplicado de forma correta ou não no universo dos aquários. Sustentabilidade remete-nos ao tripé social-ambiental-econômico, sem os quais qualquer atividade humana teria (em tese) pouca ou nenhuma consistência e solidez; daí a derivação “desenvolvimento sustentável”*, que em si é absolutamente contraditório visto que “desenvolvimento” implica em escala produtiva, enquanto “sustentável” significa limites na demanda produtiva. Uma das principais evoluções conceituais conquistadas pelo ativismo ambiental nos últimos anos é justamente a correção do tripé clássico para “social-ambiental-ético”, entendendo que o econômico está incluso nas metas sociais.

*Definição segundo o relatório Brundtlandt (Nosso futuro comum), em 1987: “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”.

Numa civilização totalmente mergulhada numa crise ética sem precedentes, o questionamento proposto leva-nos a refletir segundo uma abordagem não-tradicional, ou seja, que não coloca o organismo aquático ou o aquariofilista como elemento focal, como fazem os praticantes do veganismo, tampouco segundo a ótica dos defensores ou detratores da experimentação animal (científica, médica ou biológica) ou pesquisa (Empírica ou cartesiana). O foco é dirigido, regido e parte da complexidade no uso e apropriação da água como veículo externalizador de nossas vaidades, vontades ou necessidades.

Onde existe o fato e o direito à necessidade por um aquário de 2.000 litros, por exemplo? Porque não um de 60 litros? Será em virtude das argumentações de que poderíamos ter uma melhor representação da natureza de acordo com as normas ditadas por especialistas? Normas estas que são destinadas a quem e por quê? Como construir uma realidade que não seja tão conflitante com as demandas mundiais pela água onde um uso sempre excluirá outro?

Quais os limites na perpetuação deste ícone da vaidade humana?

Deixo-lhes a discussão e as reflexões no confronto de nossas realidades com as necessidades do planeta Terra na busca pelas respostas. Uma construção baseada em novas posturas éticas em relação ao meio ambiente caracterizada pelo desafio de uma responsabilidade tanto individual quanto coletiva, respeitando os que ainda não estão neste plano material e a todas as formas de vida que igualmente compartilham nosso finito mundo azul.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Nova ração em teste - BIONATURE (Nutriara)


A ração em teste BIONATURE ainda é muito mal distribuida (pelo menos na região metropolitana do Rj e Baixada Fluminense) e pode ser encontrada com maior facilidade nas petshops genéricas com apelo "povão". Já tenho conhecimento da existência desta ração a aprox. um ano, mas nunca tinha me animado a comprar um sachê, até que tive o estalo (de novo...rs) de submetê-la a uma bateria de testes com caráter empírico afinal não tenho acesso a cromatógrafos a gás nem coisa parecida.
A análise começou com exame da embalagem que apresenta um erro grotesco que pode levar aos incautos a comprarem gato por lebre - olhem a foto, o que veêm? Isso! A imagem de um acará-disco! Um apelo marqueteiro mal-intencionado, afinal o que se pretende é vender ração para peixes tropicais e não para acarás-discos e isto precisa ser levado a sério. Que tal se a imagem fosse trocada por algo do tipo barbos+colisas+platis+mato-grossos? Já seria um bom caminho. Fica ai uma dica de consultoria gratuita para a nutriara.
Aliás, vamos falar um pouco da fabricante antes de passarmos para a fase seguinte? Esta fabricante não é nova no mercado e notabiliza-se pela fabricação de rações para cães, gatos, aves, coelhos, cavalos, além de vários premix vitamínico-minerais. No segmento de organismos aquáticos a linha de produtos atende ao segmento de aquiculturas intensivas de onívoros e carnívoros tropicais, de fundo, meia-água e de superfície. Vemos que em termos de tecnologia nutricional essa fabricante é bem experiente, embora seus produtos contemplem um segmento de consumidor que faz do preço seu diferencial na hora da escolha. 





E isto parece que foi transposto para a linha BIONATURE com vcs podem ver na etiqueta de preço - módicos 5,99 para um sachê de 45g, que ao contrário do que imaginamos é muita comida de peixe!!!!
Abrindo o sachê: para meu espanto não trata-se de um simples saquinho plástico, é algo bem melhor pois temos um sistema de zip-zap que lacra por simples pressão. É uma "mão na roda", chega de barbantinhos, elásticos, clips, pregadores de roupa!!!! Mas vejo no teste de pressão que o lacramento não é eficaz, podendo a ração absorver umidade se mal acondicionada. Uma pena. Mas vale a comodidade. Ponto positivo.
Na análise de textura, granulometria, odor (sabor não testei, minhas papilas gustativas não são de peixe, ok) a foto  pode atestar uma apresentação de bom nível com grãos de tamanho uniforme, com pouca presença de pó e de granulometria adequada às espécies-alvo (Lembrando que não são acarás-disco como a foto sugere). O odor é agradável e atesta que um dos ingredientes principais é farinha de peixe 65% (PB min.). Aliás, a lista de ingredientes é algo de gigante - diz que tem lulas (não, não é o barbudo, é o marinho), camarão (será o VG?), óleo de salmão (???), alho (???), e pasmem, mananoligossacarídeos (O que é isso???), e outras excentricidades. Será uma formulação revolucionária ou mero apelo marqueteiro travestido de tecnologia? É isto que um teste se propõe: avaliar resultados na prática do cotidiano.




Começei minhas avaliações com o item "aceitação" e o desempenho foi digno de suas similares importadas, foi imediato e de rápido consumo que credito em parte as altas temperaturas deste verão carioca que mantém a água acima de 32° a várias semanas. Os grânulos são de fácil apreensão pelos platis que tenho desde a montagem para o teste de NITROBIO, com pouca ração indo para o fundo e não sendo detectado turvação ou formação de película oleosa na superfície.
Num primeiro momento a ração mostrou-se apta a figurar na prateleira de hobbistas menos abastados (como eu e tantos outros) e mostra que nossa indústria pode colocar no mercado opções muito interessantes e de baixo custo. Só fico imaginado qto custou o sachê para o lojista.....rs.




A próxima análise será com relação a produção de derivados nitrogenados como uréia, amônia e nitritos, afinal marcar 48% de PB min. indica que pode haver excreção fora dos padrões considerados adequados para um aquário, afinal devo considerar que são fabricantes de rações para aquiculturas intensivas onde a eliminação destes subrpodutos metabólicos não é um fator de grande importância devido ao grande volume de água dos tanques. Mas isto só o tempo dirá. Então só me resta olhar para o calendário.

*ATENÇÃO: Ao fazer este teste não recebi ajuda financeira, subvenção ou patrocínio do fabricante, distribuidor ou lojista. Faço este teste somente com intuito de auxiliar meus companheiros de hobby a terem parâmetros numa eventual escolha de ração. Ok.


Até logo!


domingo, 15 de novembro de 2009

Um acidente emerso


Plantas aquáticas em sua maioria podem ser cultivadas em sua forma emersa e isto não é novidade pra ninguém, mas na totalidade dos casos é algo conduzido com critério pelos aficcionados, que não foi meu caso - aqui foi acidente mesmo, uma obra do mais puro acaso.


O que aconteceu com meus tufos de ludwigia? Tinha um tufo dessas plantas e procedi a uma poda para desbaste simples e simplemente joguei os talos dentro desse pote de sorvete que tinha areia de piscina misturada com substrato velho de húmus de minhoca (tudo misturado) e fui cuidar da vida, afinal não fico babando aquários 24 horas/dia. Sabe qdo vc sempre quer fazer alguma coisa mas nunca consegue tempo? Foi o caso. Também tive providencial ajuda da minha empregada que no afã de arrumar tudo e sempre, simplesmente colocou o pote naquele famoso lugar chamado "não sei onde"....conhecem? Decorridos umas 3 semanas ou mais foi pegar umas ferramentas nas prateleiras lá do alto e tava esse pote lá com os primeiros brotinhos já querendo despontar. Contei 4 brotinhos. E o resultado tai....

 
Hoje em dia além de ser uma pequena preciosidade doméstica me dei conta que estou "compensando" minhas emissões de carbono....ehehehehe. Pensando bem é bem mais "politicamente correto" (eca....odeio isso...huashuas) que "injetar" gás carbônico e aumentar o efeito estufa.

Acho que vou iniciar o "movimento para desafogar as plantas de aquários" ou "jardins emersos compensadores de carbono"....huashuashuas.
 

Testando NITROBIO em 1ª mão - Parte 2 - Conservação e durabilidade


Desde as primeiras impressões e resultados obtidos com NITROBIO no mês de março/abril, retorno com a penúltima fase de testes (de caráter exclusivamente particular e não subvencionado ou homologado pelo fabricante, fique claro): a conservação e durabilidade.

Propositadamente não utilizei dois frascos e mantive-os em ambiente escuro, porém sob temperatura ambiente, que fica entre a mínima de 15°c no inverno e até 36°c no auge do verão carioca. Não sofreram agitação, nem compartilharam a atmosfera com produtos de limpeza, cosméticos ou de cozinha - ou seja, ficaram isolados dos ambientes que normalmente servem de depósitos para fins domésticos.
A intenção foi verificar a viabilidade das bactérias mesmo após a validade expirar, que no caso foi em agosto deste ano (Data de fabricação: 25 de março/2009, Validade: agosto/2009) como a foto pode atestar.
Decorridos 4 meses com a validade expirada conduzi a seguinte experiência: 

1 - No aquário dos tucunarés, que agora não tem mais 12 exemplares, mas 4 apenas pelo simple fato que estes peixes crescem absurdamente rápidos e o ambiente já não comportavam tantos sem que houvesse forte estresse territorial, razão pelo qual coloquei o excedente a venda. Os remanescentes estão com tamanho médio de 16cm a 18cm com tônus muscular notável e começando a adquirir as típicas manchas barradas/pintadas. Estão muito lindos e vorazes. Neste aquário deixei que os níveis de amônia atingissem os 4ppm, feito isto apliquei a dosagem recomendada e tornei a medir a amônia 24 hrs depois e já tinha caído para 0,5ppm sob forte aeração por bombinha de ar simples. Uma segunda aplicação 24 hrs depois baixou de 0,5ppm para 0,0 ppm. Este valor manteve-se estável por 4 dias e a partir do 5° dia voltou a subir para 0,5ppm (Lembrando que este aquário não possui sistema de filtragem ou circulação, somente uma pedra porosa ligada a uma bombinha simples).


Constatação empírica: embora marcado como válido por somente seis meses NITROBIO comportou-se muito bem, executando a degradação da amônia sem diferenças visíveis dos testes iniciais.

Excelentes resultados. Ponto para a indústria nacional.


domingo, 13 de setembro de 2009

Laboratório IST/FAETEC - Paracambi (Rj)




Atual fase do laboratório IST/FAETEC dotado de microscópio eletrônico e outros mimos científicos.






Atual fase (experimental) do laboratório de ciências aquáticas IST/FAETEC. Em breve será transformado em referência regional com apoio da ONG 5º Elemento.









Bióloga (especialização em botânica) conduzindo aula. Não me perguntem a técnica....rsrs.









Os cortes das folhas sendo visualizados no microscópio. Fiquei muito curioso, até dei uma olhadinha....









Aqui, as macrófitas aquaticas (como os biólogos chamam) que foram estudadas.